Um único dia no ano é muito pouco para celebrar o que, diariamente, nos proporciona a força feminina. As inúmeras conquistas devem estar em pauta sempre, inclusive as do mundo das viagens – há muitas mulheres que fizeram história no turismo. Mas se 8 de março foi a data escolhida para homenageá-las, é claro que não poderíamos deixar passar em branco.
E não teria jeito melhor de prestigiar do que relembrando histórias incríveis de mulheres que contribuíram – e contribuem até hoje – ao transformar a história do mundo viajando. Enfrentando dezenas de obstáculos de gênero, classe e raça, elas marcaram o seu lugar de destaque e inspiram outras mulheres a serem tão grandiosas quanto.
Nesta seleção especial do Dia Internacional das Mulheres, escolhemos 7 personagens reais que transformaram o mundo viajando!
Jessica Nabongo
Para abrir a nossa lista de mulheres que fizeram história viajando, nada mais inspirador do que Jessica Nabongo, primeira mulher negra a conhecer todos os 195 países do mundo. Filha de pais ugandeses, a americana nascida em Detroit iniciou sua jornada em 2016, concluindo esse feito três anos depois, ao pisar em Seychelles, na África.
Jessica foi compartilhando todos os passos da sua volta ao mundo no Instagram e acabou conquistando grande público, inclusive hotéis que viraram parceiros, cedendo hospedagem em troca de divulgação na sua página, que hoje conta com mais de 200 mil seguidores. Para ajudar com os custos da sua longa viagem, a americana também fundou uma empresa chamada Jet Black, responsável por organizar roteiros personalizados.
Ao longo da jornada, a viajante enfrentou experiências negativas, como falsa acusação de prostituição, perseguição de homens e assédio. Os percalços não a impediram de levar para casa o título de primeira mulher negra a pisar em todos os países do mundo, feito antes alcançado apenas por pessoas brancas e, em sua maioria, homens.
Bessie Coleman
Se já é difícil hoje encarar os preconceitos, imaginem no século passado? A afroamericana Bessie Coleman não apenas enfrentou todos eles como ainda se consagrou como a primeira mulher negra a se tornar piloto nos Estados Unidos. E não é só isso: Bessie também adquiriu a licença de piloto internacional e foi a primeira mulher descendente de africanos do mundo a realizar esse feito.
Ela nasceu no Texas em 1892, apenas 27 anos depois da escravidão ser abolida nos Estados Unidos. Proibida de exercer a função no país, Bessie adquiriu cidadania francesa, aprendeu o idioma e se matriculou em uma escola de aviação na cidade francesa de Le Crotoy. Sua licença internacional veio após um ano de aulas e logo depois ela passou a investir no estudo de acrobacias aéreas.
Voltando à América em 1922, Bessie surpreendeu a todos com seu talento como acrobata. Seu sucesso cruzou o país e fez com que ganhasse voz para ajudar na luta contra a segregação racial e no combate ao racismo. A americana também tinha o sonho de construir uma escola para aviadores negros, mas infelizmente não conseguiu concretizá-lo. Em 1926 sofreu um acidente de avião fatal, deixando como herança seu legado capaz de inspirar todas as gerações.
Tamara Klink
É claro que na nossa lista de mulheres que fizeram história no turismo não faltaria uma representatividade brasileira. E ninguém melhor do que Tamara Klink para ser parte da nossa seleção. Filha da fotógrafa Marina Klink e do velejador Amyr Klink, Tamara, além do sobrenome, também carrega consigo o amor pelo mar que ao seu pai rendeu boas aventuras.
Mas foi sozinha, aos 24 anos, que ela navegou pelo Atlântico em seu barco de 8 m e se tornou a mais jovem brasileira, entre homens e mulheres, a cruzar o oceano sem ninguém ao lado. Se engana quem pensa que Tamara teve o apoio dos pais para investir nessa jornada solitária. A jovem economizou para comprar seu primeiro barco, recebeu empréstimo de um amigo e criou um canal no Youtube para conseguir angariar patrocínios.
A viagem que partiu da França e chegou a Recife levou três meses, com cerca de 9 mil quilômetros percorridos. Tamara também publicou dois livros sobre suas aventuras em alto-mar, incluindo uma viagem da Noruega à França. Um deles é um diário narrando suas experiências de viagens e o outro tem poemas inspirados no seu crescimento pessoal adquirido durante a travessia.
Amelia Earhart
Quebrando barreiras ao se tornar a primeira mulher do mundo a sobrevoar o Oceano Atlântico sozinha, Amelia Earhart se tornou pioneira na aviação dos Estados Unidos, além de ser uma das maiores defensoras americanas da história dos direitos das mulheres.
Aos 25 anos, seu primeiro feito histórico foi estabelecer um recorde feminino ao alcançar mais de 4 mil metros de altitude. Já em 1932, a jovem embarcou em uma jornada sem escalas, pilotando sozinha, durante 15 horas, um avião com percurso sobre o Atlântico. A viagem lhe rendeu um prêmio do Congresso Americano e o título de primeira mulher a voar sobre a região. Outra aventura marcante da piloto foi um voo solo do Havaí até o continente americano, conferindo também o título de primeira mulher a realizar este trajeto pelo ar.
Grande precursora no mundo da aeronáutica, Amelia abriu muitas portas para a participação feminina na aviação, fundando a organização de aviadoras Ninety-Nines e incentivando mulheres a ocuparem cada vez mais lugares no ramo. Mas seu verdadeiro sonho era realizar uma volta ao mundo e, no ano de 1937, junto do navegador Fred Noonan, ela partiu em busca dessa realização. Os dois sumiram no Pacífico, no entanto, e o mistério sobre o seu desaparecimento intriga até hoje.
Jeanne Baret
Em uma época em que as mulheres eram proibidas de viajar a bordo de navios da Marinha, a francesa Jeanne Baret se disfarçou de homem para acompanhar uma expedição de Louis Antoine de Bougainville e se tornou a primeira mulher a circum-navegar o mundo, ou seja, a realizar a volta completa na Terra em uma viagem pelo mar.
Nascida na França em 1740, Jeanne Baret era de uma família camponesa e se tornou especialista em botânica ao aprender na infância tudo sobre as propriedades curativas das plantas. Ao se relacionar com o botânico Philibert Commerson, a jovem passou a acompanhá-lo em viagens pela Europa, inclusive em uma expedição do governo ao redor do mundo com o objetivo de desbravar outras terras e onde seu parceiro coletaria novas espécies.
Para isso, Jeanne precisou vestir roupas largas e ataduras, além de adotar um nome masculino. A expedição fez com que a francesa encontrasse mais de seis mil diferentes novas plantas, fazendo algumas das mais notáveis descobertas e assumindo o papel de botânico-chefe muitas vezes em que as condições de saúde de Philibert não o permitiam. O disfarce foi descoberto durante o segundo ano de navegação, mas a vida de Jeanne foi poupada graças às suas grandiosas contribuições na viagem.
Nellie Bly
Elizabeth Cochran Seaman, mais conhecida como Nellie Bly, seu pseudônimo, superou sozinha os obstáculos que a impediriam de dar a volta ao mundo há cerca de 130 anos. Com uma brilhante carreira em um dos maiores jornais dos Estados Unidos, o New York World, a jornalista convenceu seu editor a confiar a ela, em vez de a um homem, o desafio de completar a volta ao mundo mais rápida para superar Phileas Fogg, personagem de Júlio Verne no livro A Volta ao Mundo em 80 Dias.
Foi no início de 1890, então, que a americana, aos 25 anos, quebrou o recorde mundial: passando por todos os continentes, seu percurso de mais de 40 mil quilômetros foi concluído em apenas 72 dias a bordo de navios, trens e barcos. A experiência deu origem ao livro Volta ao Mundo em 72 Dias, escrito pela própria Nellie e sucesso internacional.
Mas antes da fama pela conquista do recorde, Nellie já se destacava como mulher muito à frente do seu tempo: pioneira do jornalismo investigativo, escrevia sobre a mão de obra feminina nas fábricas, desigualdade social e assuntos com temáticas parecidas, incomodando empresários e governantes e ficando cada vez mais em evidência já que, naquele tempo, não era comum mulheres debaterem esse tipo de pauta.
Freya Stark
Nascida em Paris no fim do século XIX, Freya Stark foi uma grande exploradora e escritora europeia, publicando mais de 20 livros que narram suas experiências de viagens pelo Oriente Médio e Afeganistão, lugares em que, na época, nunca haviam sido visitados por mulheres sozinhas.
Desbravando a região do mundo islâmico, Freya viveu algum tempo em Bagdá, se abrigando em acampamentos e vivenciando experiências locais, como trajetos em camelos e caminhadas árduas sob o sol. Foi, ainda, uma das primeiras pessoas não-árabes a percorrer o Deserto da Arábia, se tornando uma grande e corajosa exploradora, além de geógrafa, arqueóloga e historiadora.